terça-feira, 29 de junho de 2010

Complexo de Golgi

Nos anos 90 Bussunda tinha uma coluna no Estadao. Para mim, Bussunda no Estadao já é uma piada. Uma coluna em especial me ficou na memória (tentei achar na Internet, mas nao encontrei), ele trata do aprendizado de coisas inúteis e dá como exemplo a total inutilidade para a profissao de jornalista e humorista saber o que é complexo de Golgi.
Eu achei a coluna muito engracada, principalmente por que me irrito muito com gente que nao quer aprender isso ou aquilo por que nao terá utilidade.
Este mês, numa entrevista ao Caderno de Educacao(http://tinyurl.com/32ap85v), Fernando Reinach levantou este mesmo tema ao declarar "Quantas pessoas calculam raiz quadrada em seu dia a dia?"
Acontece que nao se aprende para usar, primeiro porque é impossível definir o que se vai usar ou nao. Bussunda usou o seu conhecimento sobre complexo de Golgi para fazer uma piada, objetivo do seu trabalho - na verdade, ele fez várias piadas com este tema. Outra coisa é deixar de aprender algo implica em aprender alguma outra coisa no lugar, vejo muitos exemplos de deixar de aprender alguma coisa por inútil e nao aprender nada no espaco deixado por esta falta de aprendizado, o que é com certeza inútil.
Porém, mais importante do que tudo isso é compreender que o aprendizado vale pelo caminho em si, vale o exercício da memória, a curiosidade de coisas novas, as ligacoes imprevisíveis que se formaram com conhecimentos aparentemente desconectados. Vale compreender que se aprende de forma rizomática, sem controle.
Quem diz que nao precisa aprender alguma coisa está com precisa de aprender qualquer coisa.

domingo, 27 de junho de 2010

Herança

A heranca é vista como uma coisa sempre boa, um prêmio, quase igual a ganhar na loteria. Quantas histórias já ouvimos sobre herancas inesperadas vindas de parentes distantes, sobre um diligente advogado inglês que conseguiu localizar um sobrinho-trineto de um milionário duque, sobre a jovem americana que se descobre herdeira de império e assim por diante.
Herancas podem ser boas ou ruins, nem sempre é uma coisa boa. Algumas doencas vem por heranca, diabetes, doencas do coracao, calvicie e muitas outras sao transmitidas dos pais para os filhos. Para estas nao há escolha, recebe-se, aceita-se e vive-se com isso da melhor maneira possível.
Todas as outras herancas nao sao imposicoes da vida, aliás, muito pelo contrário, as herancas recebidas sao fruto de escolha. Pode-se escolher o que herdar, depende do que se faz com a heranca.
Uma pessoa que recebe uma fazenda por heranca, que era do pai, que era do avô e que era do bisavô, se nao cuidar e continuar com a fazenda, nao terá esta heranca. Se ele vender a fazenda e montar uma fábrica, toda a heranca de quatro geracoes acaba-se.
As escolhas ficam ainda mais evidentes quando a heranca é imaterial. O avô era escravocrata, o neto escolhe nao ser herdeiro deste pensamento. Isso pode acontecer com grupos de pessoas também. Corporacoes podem escolher o que manter como heranca, empresas com tradicoes de pouco respeito ao meio ambiente podem mudar completamente, ou ao contrário, empresas éticas podem destruir o patrimônio ético rapidamente, desde que desejem nao ser mais herdeiras deste legado.
O quanto a selecao brasileira de hoje é herdeira do futebol de geracoes anteriores, que escolhas fizemos? Que escolhas fizeram por nós?
Será que recusamos a heranca de tolerar ou querer ditaduras? Escolhemos finalmente a responsabilidade da democracia?
Aqui percebo uma recusa muito grande em continuar com a heranca do nacionalismo, por isso o comedimento no uso das bandeiras e dos símbolos nacionais na copa do mundo. Recusaram uma heranca e estao construindo novas para as geracoes futuras.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Educacao para todos

Educacao para todos pode ser educacao para ninguém.
Na aula de alemao tivemos uma explicacao do complicado sistema educacional alemao, eu já havia lido a respeito e conversado com várias pessoas, entao foi mais fácil de entender. Depois tive que fazer uma redacao sobre o sistema educacional brasileiro e explicar para a professora. Ela ficou espantada ao saber que a educacao básica, i.e. Fundamental + Ensino Médio, é para todos os cidadaos. Ela estranhou um esforco de tempo e dinheiro para dar 11 anos de educacao igualitária a todos os cidadaos.
Claro que eu tive dificuldade em explicar que isso era somente em teoria, que na vida real isso nao funciona. Ainda mais falando em alemao.
Eu já considerava que o modelo educacional brasileiro é a forma que encontramos para manter a desigualdade. Aqui minha opiniao ficou mais forte. Dizemos que temos educacao para todos para nao dar educacao à ninguém, quem puder que consiga a sua. Da mesma forma que dizemos nao haver racismo para continuar excluindo os negros.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ainda sobre vinganca

O fato de haver uma tentativa de favorecimento através de uma entrevista exclusiva para a Globo, nao muda em nada o que penso sobre a vinganca.
Também nao muda o conceito sobre o jornalismo da Globo, que na maioria das vezes nao pode ser chamado de jornalismo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A vingança como objetivo.

A vingança é o ato de quem, por se julgar ofendido ou lesado, causa a essa pessoa ação mais ou menos equivalente. A vingança é o oposto do perdão. Se a melhor vingança é viver bem, a pior vingança é ter na vingança o objetivo de vida. Mesmo se o que nos lesa é um ato concreto um dano material, a reparação do dano deve ser o limite da atuação. Se, para além da reparação do dano vamos buscar a vingança, causando no agressor outro dano, estamos propagando o mal e esquecendo totalmente de não fazer aos outros aquilo que não queremos que façam a nós.
Quanto a nossa ofensa é por uma crítica desmedida, injustificada, exagerada, e ainda por cima conseguimos, com trabalho, esforço e determinação, conseguir fazer o trabalho, mostrando a estes críticos que estavam errados, claro que sentimos um sabor de vitória ainda mais gostoso. Neste ponto conseguimos a reparação do dano, os fatos derrotam as críticas e os autores das críticas têm que reconhecer as evidências. Ir além disso é vingança, e tentar causar ao autor da crítica algo que nem deveríamos ter sentido. Pior que isso é transformar a vingança como objetivo maior do trabalho. Como se disséssemos: “Vou conseguir só para provar que os meus críticos estão errados”. Há vários equívocos nesta postura. O primeiro é mudar o objetivo do trabalho, não houvera crítica não se faria o trabalho com tanto afinco? Outro é desconsiderar que as críticas fazem parte do trabalho e que podem alterar rumos e, portanto fazer parte do sucesso. Finalmente, há o equívoco em supor que é realmente possível fazer com o outro se sinta ofendido no mesmo nível que nos ofendemos, basta que o autor da crítica não se sinta ofendido e todo o esforço foi em vão.
A postura do técnico da seleção com a imprensa tem sido somente a de vingança, a vingança o move e só ela, o que é uma pena. Não deveria ser assim, não é essa a nossa tradição, não é nisso que acreditamos, não é isso que queremos passar para as gerações futuras. A tradição do nosso futebol é a brincadeira, a alegria, a descontração. É jogarmos um jogo de Copa do Mundo como uma pelada de fim de semana, revidando a provocação com um drible, devolvendo um carrinho com uma bola nas canetas. Transformando a cara amarrada num sorriso. E mais do que isso, sabermos que terminado o jogo tudo terminou. O mais gostoso de um futebol de fim de semana e a cerveja depois, em que rimos das bobagens que fizemos e nos confraternizamos com alegria.
A postura do Dunga é a mesma do Zagalo quando dizia “Vocês vão ter que me engolir!”, e a nossa resposta a isso foi o deboche. Esta foi a nossa vingança e não deixamos de comemorar as vitórias e de chorar as derrotas e de sermos gratos a ele por toda a alegria que nos trouxe.
Optar pela vingança é optar pela derrota certa, é escolher um objetivo que nunca será atingido. Ganhemos a Copa e todos nós estaremos felizes, a imprensa não se sentirá ofendida por mais que Dunga ofenda os jornalistas, se perdemos a Copa todos perderemos e a distância imposta nos impedirá de chorarmos juntos, de lambermos nossas feridas.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Onibus


O transporte público aqui é excelente. Eu, como estudante, nao pago. Um adulto pode comprar um ticket válido por 30 dias (Monatskarte) por € 36,80. Com duas passagens por dia, contando somente durante a semana dá mais ou menos R$ 2,25 por passagem. Além disso tem ônibus, ou bonde, toda hora.

Eu tomo o 5515 numa estacao a 50 metros de casa, desco na Luisenplatz e pego o K para universidade.
Andar de ônibus me é interessante, ainda mais com tanta civilidade, quem sai tem sempre preferência, o ônibus rebaixa no ponto, nao há degraus para subir (aqui voce toma o ônibus e nao sobe no ônibus), e os horário sao cumpridos.
Eu tenho três atitudes diferentes durante as viagens, ouco música, presto atencao dentro do ônibus ou presto atencao fora do ônibus.
Quando ouco música eu me desligo de tudo. Quando presto atencao dentro do ônibus fico imaginando histórias sobre as pessoas que estao no ônibus Aquele rapaz meio desligado está indo fazer prova de física e nao estudo direito, aparenta calma mas está desesperado. Aquela senhora acabou de resolver um problema com o marido e nem queria mais sair de casa, olha só a cara de felicidade dela.
Quando eu presto atencao fora do ônibus, vou olhando a paisagem e procurando detalhes novos num caminho que é sempre igual, sempre o mesmo.
Ontem estava prestando atencao fora do ônibus, procurando pequenas estátuas ou decoracoes que as pessoas poem nas casa. Tem uma casa com uma estátua de cachorro que é o máximo. O dono poe um lenco vermelho, outro dia tinha um tapa olho de pirata e agora está com um chapéu de bombeiro. Perdido eu meus pensamentos eu nem percebi que uma senhora de bengala estava de pé ao meu lado. Imediatamente eu me levantei para dar lugar a ela, peguei a mochila com a mao e me levantei. Neste instante o ônibus partiu. Eu perdi o equilíbrio, quase larguei a mochila, busquei um lugar onde me segurar, tirei o pé para nao pisar na pessoa do lado.Nao cai, mas foi um vexame.

Alemanha x Servia


Hoje tem jogo da Alemanha. Vi muitas pessoas com colares com as cores da Alemanha e também camisas, principalmente do Podolski.
Na universidade a frequencia é menor de sexta-feira naturalmente, porém hoje vejo menos gente ainda.
Aqui no meu departamento devemos assistir ao jogo no Biergarten da cantina da universidade. Acho que vai ser bem divertido.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Brasil versus Coreia do Norte


Darmstadt nao é lá uma cidade muito bonita, por isso a comparacao com Sao Bernardo ou Diadema. Mas esta comparacao é injusta. Darmstadt tem um centro bonito, com uma praca do mercado que fica de frente para o Castelo e onde tem o Ratskeller, um bar-cervejaria local muito agradável.

Foi neste bar que assistimos ao jogo do Brasil contra a Coreia do Norte ontem. Um telao muito bom e a narracao em alemao. Muitos brasileiros fazendo festa, torcendo, jogando capoeira e bebendo.
Estar entre amigos é sempre divertido, apesar do jogo. Aliás, sobre o jogo o melhor comentário foi de um alemao que estava alegremente vestindo a camisa do Brasil. Ele disse que os jogadores brasileiros sao reconhecidos por serem rápidos, precisos e imprevisíveis, justamente o contrário que a selecao apresentou no jogo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

TU meet & move


Ontem teve a festa da universidade, o TU Meet and Move, onde TU é a abreviacao para Universidade Técnica.
É um dia inteiro de festa, com várias atividades esportivas, basquete, futebol, volei, tenis, volei de praia e uma maratona de revezamento. Tem também atracoes musicais com shows de rock, de música popular e de música clássica, ontem tocou um quarteto de cordas.
Os clubes da universidade montam barracas com ofertas de comidas e bebidas típicas, e as pessoas se espalham pelos gramados e passam o dia.
A maratona de revezamento que eu participei é feita em um circuito de 2,1 km, onde os participantes podem correr uma ou duas voltas. Mas nao é verdadeiramente de revezamento, todos os participantes largam ao mesmo tempo e os tempos sao somados.
Eu consegui manter o meu ritmo de sempre, 6 minutos por kilometro, ainda nao tenho o resultado oficial, mas devo ter ficado perto dos 24 minutos.
A melhor notícia, no entanto, foi meu joelho, que vinha de uma condromácia patelar, nao doeu nada. Estive ótimo o tempo todo.

domingo, 6 de junho de 2010

Descamisado

Anteontem dormi sem camisa. Sei que isso é normal no Brasil, mas aqui é um fato raro.
Ontem corri com a camisa da selecao brasileira e pensei sobre o que isso representa. Lembro da copa de 70, do "Prá frente Brasil", do "Ame ou deixe-o", das fitinhas verde-amarelas nas antenas do carro. De pequeno, nao via nenhum problema nisso, e hoje nao vejo na atitude nossa, brasileira, algum problema com relacao a isso.
Por isso estranhei o comentário de alguns, poucos é verdade, sobre o quao ruim é isso de colocar bandeiras, ou expressar o nacionalismo de forma tao clara, sobre os riscos envolvidos.
Aqui tem para vender um kit torcedor, com camisa, bandeirinha, vuvuzela e uma bandeira de por no vidro do carro, mas isso só aconteceu depois da copa de 2006, onde a Alemanha unificada se permitiu expressar um sentimento nacionalista. Enquanto a maioria compra e usa este kit sem culpa, alguns ficam preocupados com este movimento.