sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

As aparências enganam


A readaptação foi tão tranquila que nem aconteceu. É como se não tivesse saído do meu país.
D. Filomena me disse na Alemanha:
- Um bom retorno! Muitas felicidades, e vocês não vão para um país desconhecido, senão o vosso país.
E isto foi muito verdadeiro, é o meu país, me sinto em casa.
Muitas pessoas me falaram que eu iria sofrer com as diferenças, com as coisas boas da Alemanha e com a falta de seriedade. Pois bem, a primeira compra do supermercado ficou em alguma coisa e 73 centavos. A caixa me deu 25 centavos de troco. Coisa inimaginável na Alemanha. Pronto, pensei! Estou de volta ao Brasil. Mas não é que na segunda compra o valor ficou em alguma coisa e 3 centavos e o arredondamento desta vez foi baixo! No final, fiquei no lucro em um centavo e não tive que carregar as moedinhas. Além do que a tranquilidade e o sorriso do caixa valem muito mais que os centavos arredondados.
Indignado eu fiquei com o tal do selo "Periciado" nos automóveis, mas isso merece um outro post.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Despedidas


No meu último dia na Universidade eu ofereci "Romeo und Julia", ou Romeu e Julieta, a nossa famosa goiabada com queijo.
Eu mandei um email para todos os meus colegas com a explicação sobre o doce, claro que em alemão. Logo todos foram para copa e foram provando e elogiando o gosto, mas claro que comiam só um pouquinho e logo iam tomar um café ou uma água.
Quando estavam todos um colega agradeceu minha presença durante o ano e me entregou um pacote e um cartão.
Eu abri o cartão e li a gentil mensagem em alemão e vi assinatura dos meus colegas. Só com isso eu já estava emocionado. Ao abrir o pacote fiquei ainda mais emocionado ao ver a camisa da seleção alemã (a preta) com o meu nome às costas. Não sei se fazem isso para todos, se é o padrão de despedida e isso é irrelevante para mim, fiquei sinceramente emocionado e agradecido.
Foi uma bela homenagem.



Ah...

A camiseta do Brasil na foto é porque foi este o presente que recebi ao sair do Brasil.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O passarinho e o moto contínuo


Na primeira aula de física, na escola técnica, nos idos de 1981, o professor falou sobre a impossibilidade do moto contínuo. Como exemplo ele falou do passarinho que bebe água como se fosse uma coisa conhecida de todos. Tao conhecida, que eu, de modo estúpido, tive vergonha de perguntar.
Fiquei com aquilo na cabeca durante anos, sempre tentanto encontrar o tal passarinho e até pensando em um jeito de construir um.
Estando em Munique fomos visitar o Museu Alemao. É espetacular, e eu ainda tinha uma plateia só para mim. Fiquei embevecido!
Na saída uma lojinha, com tudo que é relacionado a tecnologia, modelos de carros movidos a hidrogenio, kits com as invencoes de Leonardo Da Vinci, telescópios, kits de químicas, e.....o tal do passarinho.
Hoje possuo o passarinho que é quase um moto contínuo e nao me canso de ve-lo beber água sem parar, sem usar pilha, sem molas e sem precisar dar corda.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Foguetes




Lins, 1970.
Mesmo no interior de São Paulo a corrida espacial era o assunto de todos. No meu aniversário de 6 anos o bolo foi cortado em pedaços, embrulhado em papel alumínio e montado na forma de um foguete.
Naquela época eu também ganhei uma revista que vinha com todos os assuntos da NASA e um kit para fazer o seu próprio foguete. Meu primo me ajudou a descobrir que efervescente era o Sal de Fruta e assim brincamos vários vezes com o foguete.
Depois, eu fiz esta mesma brincadeira com vários sobrinhos, usando um tubo de Cebion.
Berlin, 2010.
Na volta de Berlin um trem superlotado. Lugar somente no vagão para bicicletas e carrinhos. Conseguimos sentar nos assentos reclináveis. Uma mãe com dois filhos, um menino de 8 e uma menina de 6, sentou-se ao meu lado. As crianças ficaram do lado oposto, num ressalto entre a parede e a máquina de vender bilhetes.
A menina sentada num assento para bebes e o menino folheando uma revista. Todo empolgado ele retirou o kit que acompanhava a revista. Um modelo de foguete, parecido com o ônibus espacial e uma base. Eu não pude deixar de sorrir. Ele leu as instruções com vagar e disse para a mãe:
É um foguete de verdade! Tem que por fermento na base e vinagre aqui. O foguete voa mesmo!
A mãe não acreditou e tentou reduzir as expectativas do filho para evitar uma frustação. Eu não me contive e confirmei para a mãe, contando que tive um quando tinha a idade dele.
O menino sorriu satisfeito e eu fiquei meio bobo por vários kilômetros, na fria neve da Alemanha, lembrando do calor Lins.

PS para a Marga
A mãe dos meninos estava lendo um livro de Sándor Márai.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Bilhete premiado


A chance de ganhar na mega sena é de 0,00000002, ou seja, praticamente zero. A chance de voce achar o bilhete premiado é também zero. Quero dizer que a chance de voce ganhar na mega sena jogando ou nao jogando é a mesma. É possível dizer que jogando voce tem alguma chance e sem jogar chance nenhuma, mas quem pode garantir que é impossível achar um bilhete?
Eu aprendi que a gente ganha na loteria várias vezes na vida. Neste fim de ano eu acertei a mega sena sozinho, depois de um ano longe da família nós recebemos a visita de tres irmas, mais meu cunhado e dois sobrinhos.
É ou nao é um bilhete premiado?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pulseirinhas


Que as pulseiras "Power Balance" nao funcionam todo mundo sabe (veja aqui). Nao me incomoda que algumas pessoas paguem mais de R$ 100,00 por uma pulseira de plástico e nem eu devo julgar quem faz isso.
A questao que me martelava era: Porque isso faz sucesso no Brasil, enquanto que nao vejo tanto alarde aqui na Alemanha.
Uma resposta possível está no fato de que aqui a moda anda atrasada em relacao ao Brasil, as novidades saem do Estados Unidos, passam pelo Brasil e depois chegam na Alemanha. Isso nao me satisfez, nao acredito que a pulseira vire moda aqui no futuro.
Outra possibilidade é considerar que o povo alemao é mais bem educado, mais racional e portanto nao se deixa levar por estas bobagens. Esta também nao é suficiente, visto que aqui também existem bruxos e outros que tais, os programas de televisao também me desmentem quanto a isso.
Finalmente cheguei a conclusao de que uma pulseirinha com holograma e poderes mágicos nao faz sucesso na Alemanha por conta do individualismo do seu povo.
No Brasil somos mais interessados e preocupados com a vida dos outros e nos pautamos também em acompanhar o grupo. Se todo mundo usa a pulseira eu também vou usar, já que mal nao faz, a selecao de volei está usando, entao eu vou usar e fazer parte delas também. O primeiro a usar no grupo também tem uma vantagem de ter para si uma parte da atencao e controlar o assunto, e mesmo que a pulseira nao tenha nenhum efeito é muito dificil desacredita-la.
Isso nao acontece aqui, cada um cuida da sua vida, se voce quiser usar a pulseira tudo bem, ninguém vai te dar mais atencao por conta disso, nem se voce usar uma calca rasgada, ou pintar o cabelo de laranja, voce faz o que quiser e pronto. Também ninguém vai te criticar ou desprezar por usar, cada um na sua.
Sao estas pequenas diferencas que a gente vai percebendo ao longo do tempo.