sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Só podemos nos dar o amor...

do qual todas as outras coisas são símbolos.
Esta é a dedicatória de Jorge Luís Borges a Elsa. A mais bela dedicatória que já vi.
Foi assim que recebi os presentes na minha festa de doutorado.

Três presentes não aparecem na foto, mas nem por isso são menos importantes. Foram devidamente consumidos. Meu cunhado me deu a cerveja da festa, a melhor cerveja do Brasil segundo os alemães que aqui vem nos visitar; Minha prima e colega de pesquisa me deu um caixa de chocolates da Kopenhagem e meu colega de pesquisa alemão me deu um conjunto de Ferrero Rocher. Presentes que refrescam e adoçam.

Bom, dois foram proto-presentes. Um, o apontador a laser e apresentador que meu ex-aluno Cyro me deu sem razão aparente e que usei em várias aulas e também na apresentação da defesa. Outro, o uísque que ganhei do Alexei e que esperou por anos até o término do doutorado. Era um incentivo e uma cobrança a mim mesmo. Abrir só depois de terminado. Foi ótimo tomar um copo junto com meu pai.

O primeiro presente veio de meu orientador, um Cava para saborear em algum momento especial e lembrar do tempo.
Logo em seguida ganhei um agenda (vermelha) e uma caneta (prateada) de meu cunhado que assistiu a defesa. Esta agenda é especial, pode torcer, virar, mexer que as páginas não saem. Talvez ele não se lembre, ganhei dele uma agenda em 2006 quando fui para a Alemanha a primeira vez. Usei muito lá, quando havia problema de comunicação (e havia muitos) eu mostrava o escrito na agenda. Assim como era naquela agenda que marcava os horários dos ônibus e dos trens.
Já na festa veio o pessoal de Botucatu. Do Carlão e da Helena ganhei o livro "Rápido e Devagar: duas formas de pensar". Lembrei dos livros que trocávamos lá no século passado, das impressões que nos causaram o "Dicionário Kazar".
Ainda do pessoal de Botucatu ganhei dos presentes especiais, uma caneta gravada com "Dr. A³ Moura" e um apontador a laser. O uso da "a³moura" vem do final da faculdade, não me lembro mais de quem foi a feliz observação sobre os três "as" se multiplicando. No encontro de 20 anos da minha turma um colega me chamou de "A ao cubo" lembrando da história. Hoje, isso virou meu nome na net, para todo e qualquer uso. O apontador a laser é agora meu companheiro de aulas, aposentei o do Cyro, mas não a lembrança. Infelizmente não guardei de quem ganhei o quê. Muito obrigado, André, Helenice e Conrado.
José Paulo me deu as cervejas. Cervejas brasileiras com gosto de Alemanha, para lembrar do tempo lá e do tempo cá. Também vem com o convite que ainda não se realizou de irmos para Campos do Jordão.
O jogo de War veio do Christian, ele conseguiu fazer o contraponto entre o doutorado, sério, maduro e o jogo, divertido, jovem. Um belo incentivo e um presente que se percebe escolhido a dedo.
Dos meus irmãos ganhei presentes plenos de significado.
Minha irmã caçula me deu um DVD (sim a capa imita um VHS) "Um Barzinho e um violão". Colocando este DVD para tocar veio uma lembrança contínua, das brincadeiras de criança, das aulas de computação, dos desafios da faculdade, das nossas pecinhas de teatro, do gosto intenso por música,  e por fim dos barzinhos com música ao vivo, que fomos pouco e precisamos ir mais.
Minha irmã Silvia me deu a caneta que imita uma plaquinha de rua. Rua Carlos Botelho. Em São Carlos era essa a rua da casa dos nossos avós. Das férias em que ficávamos os onze primos juntos, das férias "sem pai nem mãe". Das boas lembranças de casa de Vó e Vô.
Do meu irmão ganhei um relógio que veio junto com um desafio. Traduzir "Einheit macht Stark". A união faz a força, traduzi erroneamente. Meu cunhado depois corrigiu para "A união fortalece". Meu doutorado vem com muito de Alemanha, afinal foi lá que fiz meu sanduíche. Meu avô (que morou na Carlos Botelho) é a nossa conexão com a Alemanha e me deixou de herança um relógio de mesa, que conservo até hoje.
Por fim, o presente da minha mãe. A balança de dois pratos. Este presente perpassa por todos as lembranças anteriores, lembro da balança na casa de meus avós, na casa de meus pais, da ausência dos pesinhos menores, da substituição por outros comprados depois de muita procura, de haver desrosqueado o peso maior. Lembro também de recentemente ter recuperado com cuidado, mandando jatear, pintar, trocar os parafusos, lixar e envernizar o suporte dos pesos e ver a balança de novo em lugar de destaque no bufê de minha mãe ao lado da mesa de jantar. Eu fiquei especialmente emocionado com esse presente.

Esse conjunto de presentes é a prova mais concreta da dedicatória de Borges.

Muito obrigado!


Ah....a medalha da maratona foi  o presente que dei a mim mesmo!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Doutor

Achei estranho só ter me interessado pela etimologia da palavra depois de obter o título. Doutor vem de doutrina, ensinamento, pode significar aquele que tem um ensinamento a passar, daí a necessidade de uma tese com originalidade.
Depois da defesa há um sentimento esquisito que no meu caso veio em ondas, ondas de satisfação, ondas de exultação, ondas de alívio, e também ondas de aflição e de tensão como que remoendo a intensidade do evento. Aliás, esse deve ser o motivo, todo um processo longo se concentra em algumas horas de atividade intensa.
Da primeira reflexão com alguma tranquilidade, depois da defesa, depois da festa, depois da vida começar a voltar ao normal, veio a busca pelo sentido da palavra e a ideia de repassar o processo, talvez de um modo mais longo, talvez nesse post mais simples.
Querer ser doutor tem um pouco de vaidade, não há como negar. Para mim foi uma viagem tentar resgatar de onde isso começou.
No ano 2000 eu fiz alguns passatempos para minha página na internet e pensei comigo: será que não consigo vender isso? A consequência foi um contato com a Ediouro que encomendou um programa para ajudar a elaborar criptogramas. Eu fiz o programa e fiz questão de ir ao Rio de Janeiro receber. Foi minha primeira viagem ao Rio. Lá conversei com o editor-chefe, almoçamos juntos e ele fez a pergunta que mudou minha vida “O que você está fazendo na Sabesp?”. Desse questionamento veio a vontade de buscar alternativas, mas como eu já tinha muito tempo de Sabesp era considerado funcionário público e praticamente excluído de qualquer oportunidade na iniciativa privada. Para eliminar essa pecha resolvi voltar para escola, e a solução foi buscar um mestrado. Antes de terminar o mestrado eu fui chamado para trabalhar no IBTA, hoje Veris do grupo IBMEC. Terminei o mestrado e por estar na área acadêmica segui o curso natural de continuar no doutorado.
Enquanto estive no IBTA não consegui dar andamento ao doutorado, fiz as disciplinas, ajudei um pouco no laboratório de pesquisa, mas era impossível conciliar a dinâmica de gerente em uma corporação com os estudos de um doutorado. Portanto, não consegui concluir no período de 4 anos. Fiz o reingresso e tudo continuou como era. Trabalhando e sendo doutorando sem caminhar no doutorado.
A mudança veio com a saída do IBTA e a entrada na Unimep como professor e coordenador de informática. Isso mudou bastante e deu um impulso ao doutorado, mas não o suficiente para terminar. Precisei de uma bolsa de estudos de um ano na Alemanha para efetivamente dar conta dos estudos. Lá desenvolvi a tese, os aplicativos, publiquei, enfim, foi lá que fiz efetivamente o doutorado. Na volta, foi fechar a tese a agora defendê-la.
Durante o processo tive que extrair um paraganglioma. Nesse ponto agradeço muito ao Dr. André Del Negro, que foi extramente profissional e amigo, dando toda a tranquilidade que precisava.
Também durante o processo, enquanto estava na Alemanha, tive dificuldades imensas de comunicação e contei com a ajuda profissional de Barbara Palmero, que inicialmente me socorreu com os conceitos de Comunicação Não Violenta e depois fez um coaching excelente para a continuidade do processo.
Além dessas duas ajudas profissionais, não posso deixar de mencionar o apoio dos amigos e da família que sempre estiveram presentes. Nos momentos de dúvida, e não foram pouco, sempre houve uma palavra de incentivo.
Mateus, Raquel e Joselito foram os apoios mais preciosos no período da Alemanha e como foi lá que verdadeiramente escrevi a tese, foi a eles que a dediquei.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quebra-cabeça

Para montar quebra-cabeças é preciso um pouco de ansiedade. Pessoas que não são ansiosas não conseguem se debruçar por horas tentando achar uma peça em mil. Eu consigo.
Não sou assim fanático, mas já montei alguns de 1500, 3000 peças e me divirto muito com os menores, especialmente se for em grupo.
Um fato interessante sobre quebra-cabeças é que muitas vezes passamos várias vezes por um peça e não achamos que possa encaixar, pulamos essa peça e tentamos outras, várias outras. Depois de muito tentar arriscamos e voilà! a peça se encaixa perfeitamente.
Mais que se encaixar, só nesse momento podemos perceber com a figura se completa, como aquele detalhe que não fazia sentido está perfeito no todo.
Isso também pode acontecer com pessoas. Aquela pessoa que você nunca podia imaginar numa situação vai lá e se dá muito bem, se comporta como profissional e dá um show.
Isso aconteceu comigo em relação a uma amiga que agora mora na Austrália.
Eu nunca a imaginei "mãe". Não achava que combinava com ela, com as roupas, com os jeitos, com o modo de falar, enfim, seria a última coisa que eu imaginaria.
Pois é.
O filho dela está com seis meses e ela está dando um show. Uma mãe amorosa, carinhosa e apaixonada. Apaixonada pelo filho sim, mas também pelo fato de ser mãe.
E agora toda a figura faz sentido, estava tudo lá e eu não via. Uma mãezona que de vez em quando solta um palavrão, hehe.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

No vaca!

No vaca! Foi como tomar um caldo. Ou “vaca” na linguagem dos surfistas. Foi como estar no mar com os amigos, dando risada, brincando, curtindo as ondas, pegando um jacaré e de repente vem um onda mais forte, eu capotei, vi água por todos os lados, não conseguia saber para onde ir, aonde era em cima e depois disso chegar à praia e ainda estar inconsciente. Aquele instante em que é possível ouvir vozes e ver os rostos, mas não reconhecê-los e nem ser capaz de responder. Dá para perceber gente querendo ajudar, perguntando se eu estava bem, vozes ao fundo comentando o estado geral: “tá respirando”, “ele bebeu muita água”; “que onda forte, hein?”. Dois meses atrás eu entrei na fase final do meu doutorado, preparando a penúltima versão da tese. A versão entregue ao meu orientador na quinta-feira passada. Agora ele faz as correções, críticas, sugestões e me devolve para que eu prepare a versão a ser entregue à banca e depois de um mês fazer a defesa. Tive que me desligar de muita coisa, deveria ter dado alguns telefonemas, retornado mensagens de amigos e não pude fazer. Especialmente na ocasião do meu aniversário, meus melhores amigos mandaram mensagens que não respondi. Agora que já voltei a respirar quero me desculpar com eles e contar com a compreensão desse momento especial. Alexei, Conrado, André, Paulinho, Ricardo, Barbara, Lélia, Agnes, muito obrigado pela lembrança do meu aniversário, valeu mesmo. Foi muito importante receber a mensagem de vocês, estou esperando para a festa de defesa para dar um abraço e agradecer pessoalmente.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O ano novo

Hoje, 16 de janeiro, começa o ano.
Pelo menos, para mim.
Começa verdadeiramente e só agora vou começar a fazer as minhas resoluções de ano novo, agora sim é tudo novo.
Para começar, eu abandonei todas e quaisquer superstições de virada de ano, não joguei na mega da virada, não pus roupa nova e nem branca, não entoei cânticos ou mantras. Claro que comemorei com a família e desejei bom ano para todos. Internamente, para mim, não valia. Vale a partir de agora.
Senão vejamos:
Promessa: Terminar o doutorado - Ontem entreguei o documento para minha qualificação;
Promessa: Correr a maratona de Berlin - Na semana passada recomecei a fazer musculação e corri 15 km em 1h27m (ganhei uma unha roxa de brinde); Marquei um cardiologista para esta sexta-feira.
Promessa: Buscar novas oportunidades - Na última quarta-feira recebi uma sondagem para um emprego.
Também mandei arrumar o carro e comprei repelente para pombos.
Enfim, tudo zerado para começar o ano.
E tenho que começar me desculpando pelas coisas que deixei para trás no ano passado. Desde dezembro estou em falta com várias pessoas.
Preciso dar os parabéns para o meu irmão, agradecer as mensagens de ano novo de várias pessoas (meu primo, minha tia, meu cunhado, meus amigos da Alemanha, meus amigos da Sabesp...)
Preciso ligar para agradecer os presentes que recebi de natal (o papai Noel foi especialmente generoso este ano).
O ano começa e a vida continua. Feliz ano novo!!