terça-feira, 9 de maio de 2017

Calculadora

Eu tenho uma régua de cálculo.
Não, eu nunca usei uma régua de cálculo. Lembro que ao entrar na Escola Técnica ainda se vendiam réguas de cálculo na Coopereti (a lojinha da cooperativa) e que os veteranos usavam réguas de cálculo. Naquela época ter uma calculadora era sinal de status. As calculadoras ficavam presas ao cinto, assim como os primeiros celulares. Não bastava ter uma calculadora era preciso mostrar.
Na escola técnica eu usava uma HP 33E, em parceria com minha irmã. Essa calculadora era uma evolução da HP 25C. A letra C designava que a calculadora tinha memória contínua, ou seja, depois de desligada a programação e os dados armazenados não se perdiam. A minha calculadora (HP 33E) não tinha memória contínua, o que era um tremendo entrave para quem programava na calculadora.
Naquele tempo os usuários de calculadoras se dividiam entre os que gostavam da HP e os que gostavam da Texas, discutia-se com paixão quais as vantagens de uma ou de outra.
Na faculdade, sempre em parceria com minha irmã, recebemos uma calculadora nova, a mais moderna à época, uma HP 15C. A HP fornecia dois modelos de calculadoras, uma científica, a HP 11C e uma financeira, a HP12C, e uma científica mais avançada, a HP15C. A HP 12C é um sucesso até hoje para economistas e administradores. A HP 11C era quase que um fusquinha à época. Só os fortes usavam uma HP 15C.

Eu mergulhei no uso da minha calculadora, sabia todas as funções e as utilizava ao máximo.
Já no penúltimo ano da faculdade, na disciplina de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica, tínhamos que resolver sistemas que se transformavam em uma matriz de 3 x 3 com números complexos. Com o uso da calculadora levávamos mais de 30 minutos resolvendo esse sistema. Eu aprendi como fazer isso com a calculadora e fui para a prova totalmente confiante.
A prova consistia em duas questões, uma questão teórica com valor de 3 pontos e uma questão com o tal sistema que valia 7 pontos. Eu modelei o sistema, pus os dados na calculadora e rodei o programa para o cálculo. Enquanto a calculadora fazia o trabalho bruto eu respondi a questão teórica. Respondi à segunda questão com um número absurdo de casas decimais e fui o primeiro a entregar a prova, para espanto do professor. Minha nota final foi 9,5, por uma bobaginha na questão teórica. O professor veio falar comigo para saber como eu tinha respondido tão rápido e tão correto.
Anos depois, já trabalhando como engenheiro e mesmo com um computador na minha mesa eu não abandonava minha calculadora. Infelizmente houve um roubo no meu lugar de trabalho e minha calculadora se foi.
Na verdade, não me era mais útil, mesmo assim fiquei bem triste. Ainda mais porque não era só minha, era também de minha irmã.
Com o avanço da Internet e dos sites de vendas de produtos usados eu decidi comprar uma calculadora usada. Para minha surpresa, a HP15C virou item de colecionador, poucas à venda no Brasil e caríssimas, mesmo nos Estados Unidos. Eu desisti, minha saudade não era tanto assim.
Nesse mês, no entanto, uma aluna ofereceu no Facebook a calculadora tão sonhada. Ninguém nem sabia usar a calculadora, o fato de não ter um sinal de igual dá um susto em muita gente. Vários fizeram troça oferecendo coisas sem valor, só para fazer graça.
Eu chamei a aluna e expliquei toda a situação e a minha história com essa calculadora. Contei do valor no mercado e do valor para mim.
Ela compreendeu tudo e fechamos um acordo num valor bastante razoável.
Fiquei muito feliz e sou muito grato a essa aluna.
Agora sou novamente proprietário (em conjunto com minha irmã) de uma calculadora de estimação.

3 comentários:

  1. Eu tenho a minha régua de cálculo. Usei naquela época. Hoje ela só decora a minha sala e me faz lembrar que as coisas evoluem. A calculadora 15C fez parte da minha graduação. Mais uma vez, fiquei comovida com a atitude do meu irmão e emocionada com o texto (Mas isso já é tautologismo).

    ResponderExcluir
  2. Bela história Toninho!!! Eu cheguei a usar régua de cálculo por um semestre e fiquei encantado! Ela nos obriga a ter muita noção das grandezas envolvidas nos cálculos e assim ficamos menos passivos na hora de fazer as contas. Mas não dá para suplantar a calculadora. Bem, devia ter sentado mais perto de você naquela prova de GTDEE!! Abraços

    ResponderExcluir
  3. Quando fiz a disciplina de desenho geométrico, tinha uma régua T. Na época, conheci esta calculadora e fiquei encantada com seus recursos, mas não cheguei a utilizá-la. Imagino o significado desta calculadora na sua vida. Fiquei feliz que ela chegou até suas mãos outra vez. E a forma como isso aconteceu só aumenta minha admiração por você. Abraço

    ResponderExcluir